domingo, 16 de junho de 2013

O que aspiradores de pó e ônibus têm em comum?

Os investimentos em transporte público que têm sido fomentados por conta dos grandes eventos esportivos, além das próprias concessões de ônibus, têm dado pouca relevância a um assunto urbano dos mais interessantes: os impactos que os ruídos dos ônibus trazem à vida da população brasileira. O assunto pode parecer secundário, considerando que hoje o trânsito e a poluição atmosférica (sobretudo dos veículos em congestionamento) certamente se encontram entre as principais críticas que os cidadãos urbanos apresentam cotidianamente.
Mas o ruído não é tão secundário assim. Estudos europeus indicam que 1 a cada 3 cidadãos estão frequentemente expostos a ruídos de trânsito, em especial ônibus. E os efeitos negativos não são nada desprezíveis, indicando danos na capacidade auditiva, distúrbios de sono, dificuldades de aprendizado e/ou concentração para crianças, além de problemas mais sérios, como doenças cardiovasculares. Esses mesmos estudos apontam que ataques cardíacos e mesmo derrames podem até mesmo ser o resultado de uma exposição excessiva e prolongada a ruídos acima de um determinado patamar.
As pessoas reagem a esse ruído. Passam a valorizar apartamentos de fundo, em detrimento de apartamentos de frente, substituindo vista por silêncio. Além disso, passam a pagar para se proteger do ruído, fazendo proliferar o mercado de janelas antirruído, cada vez mais comuns. É uma reação semelhante à que se verificou a partir de um quadro de violência, que acabou gerando grades para os condomínios, além de um forte consumo de veículos blindados, hoje já em declínio, por conta dos avanços realizados na política de segurança pública.
A camada mais carente da população recebe os piores impactos do ruído decorrente do transporte. Sem dinheiro para adquirir proteções ou mesmo para migrar para ambientes mais silenciosos, diversas comunidades carentes ficam à margem de grandes avenidas, especialmente afetadas por barulho de ônibus. Uma solução, geralmente cara e raramente verificada no caso concreto, é a instalação de barreiras acústicas, que têm efeitos relativos.
Então, o que aspiradores de pó e ônibus têm em comum? A resposta é simples: o ruído. Só que um interessante movimento no mercado de aspiradores de pó já pode ser verificado em diversas redes de varejo. Já se encontra, com alguma facilidade, aspiradores que não produzem qualquer barulho; resultado de demanda por menos ruído, que o mercado atendeu. O preço, naturalmente, é mais caro do que os aspiradores barulhentos. Mas não será uma surpresa se, daqui a alguns poucos anos, sequer existam aspiradores não silenciosos.
O futuro certamente é o investimento em transporte público. Mas será que é impossível construir ônibus menos barulhentos?

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